Na vida passamos dificuldades. A gente compra parcelado, fica desempregado, deixa de pagar algumas parcelas, arranja emprego e renegocia; coloca os filhos em escola pública, trabalha feito louco e no final do ano fica um feriadão na praia feliz da vida, mas achando que pode ser melhor. Vamos atrás dos nossos sonhos cansados da correria do dia-a-dia até ver um programa de TV. Lá está um cara lançando um livro contando a história da sua vida: ele nasceu órfão, foi mal tratado quando criança; foi engraxate; vendedor de amendoins... blá blá blá ... “venceu na vida”. No livro ele conta como não precisou de ninguém para subir na vida e com muito trabalho e esforço foi o construindo seu império, deixando intrinsecamente dito: – EU CONSEGUI SOZINHO. VOCÊ NÃO ESTÁ FAZENDO O SUFICIENTE PARA CONSEGUIR. PREGUIÇOSO.
Obrigado Sr. self-made man por me fazer sentir melhor e olhar para os meus sentindo o pesar de não fazer o suficiente para “vencer”. É difícil admitir mas – CARA, EU PRECISO DOS OUTROS! Eu preciso dos incentivos do governo para estudar, construir minha casa, dos sistemas de saúde; preciso da sensatez de algumas pessoas para reconhecimento do meu trabalho, a compreensão dos meus parentes de que estou tentando, a compreensão dos meus credores e que saibam que eu estou tentando. Como dizer àquelas pessoas que vivem abaixo do necessário - criando seus filhos como pode - que elas não fazem o suficiente? Seria justo cobrar isso das pessoas não atendidas pelo estado?
O Sr Self-made man que faz parte do 1% dos que “conseguiram” não sabe que a sua história orgulhosa de trabalho exclui outros 99% que estão lutando. Seu discurso eloqüente auto bajulador transfere a responsabilidade, que deveria ser em grande parte da sociedade, para as pessoas que se culpam diariamente por fazerem somente o suficiente. A ascensão social deveria ser o estímulo para que possamos ajudar as pessoas a ascenderem socialmete também. Até um dia, o banco desse self-made man quebra e este recorre ao governo pedindo empréstimos para manter seu patrimônio. Esse mundo gira...
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