quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O orgulho carnívoro dos gaúchos

   Uma coisa que não nego com certo orgulho bairrista, por qualquer pago que ande, é que sou gaúcho. Embora eu saiba que muito de nossa tradição seja uma construção posterior ao fato que elas remetem, me sinto orgulhoso dela ( tal qual como um físico e/ou um marxista que crê em Deus). E como todo bom gaúcho, algo que creio que seja, ou tente ser, penso que a associação que se faz com este adjetivo pátrio faz é inequívoca: churrasco.


Foto de um pequeno tira-gosto realizado antes de um churrasco




   A palavra "gaúcho", cuja origem é imprecisa, assim como o povo que ela representa, ultrapassa as fronteiras. Adentrando pelo Uruguai, pampas argentinos e sul do Brasil, esse povo encontra parte de sua essência no ardor de uma fogueira sobre um animal morto. E é assim que, de alguma forma, nós gaúchos ficamos conhecidos ao redor do mundo como excelentes churrasqueiros. Além de ter uma mística que atrai as mulheres, mas isso é assunto para outro post.

   O que acontece, e que venho aqui reclamar, é que existem pessoas que ao defenderem seus pensamentos, acabam atacando o dos outros, gerando um atrito. É o que ocorre entre os churrasqueiros mores, como eu, e os vegetarianos. Certa vez li que o gaúcho é o tipo mais desumano dos humanos, por sentir prazer em comer outro animal. Quanta ignorância! Explico.

   Além de não ser só o povo gaúcho que come animais mortos, assados ou não, tal carnificina só demonstra que somos um povo de boa memória. Ora, estamos aqui honrando nossos antepassados, que tanto lutaram para que chegássemos ao topo da cadeia alimentar!

Cadeia alimentar: até os zumbis chegarem, estaremos no topo







    Além do fato de estarmos honrando nossos antepassados, outro fator pesa na nossa escolha pela carne: o ato ritualístico de se sentir superior sobre uma presa abatida. Ao honrarmos quem pisou na terra antes de nós com um belo churrasco, estamos, ao mesmo tempo, honrando a vida do animal que foi morto, comendo-o por inteiro, aproveitando dele até o berro.

   Certa vez li que, ao nos alimentarmos de outro animal, estamos cometendo uma espécie de canibalismo de reino. Ora, então me expliquem os vegetarianos, como que adubamos as plantas para que se nutram? Isso mesmo, resto de outras plantas mortas, o famoso adubo orgânico. Seriam, então, também as plantas canibais? Na opinião desse humilde escritor, é quase certo que sim. Estamos todos, portanto, a cometer esse canibalismo de reino.

Adubo orgânico: ou seria, churrasco para plantas?




   Pois é minhas crianças, além dos fortes fatores culturais, ainda temos os fatores físico-biológicos para nos alimentarmos de outros animais: imagine um bebê recém nascido mamando na teta de um brócolis!!!

   A comida é parte da minha cultura; Eu também sou parte da minha cultura; Se você não gosta da minha comida, logo não gosta da minha cultura, e, portanto, você não gosta de mim. Se você não gosta de mim, te afasta da minha churrasqueira e vai comer a grama do jardim!



   Um abraço sufocante e carnívoro a todos!