quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ano novo, vida nova?

  Todo ano é a mesma coisa. Promessas e mais promessas são feitas na esperança de que algo mude nas nossas tristes vidinhas rarefeitas. "Ano novo, vida nova!" dizem. "Ano novo, vida nova?", pergunto.


Fogos de artifício: tão artificiais quanto a onda de comemorações da data

   O período temporal de um ano é sempre comparado com o período de existência de um ser humano, também conhecido como vida. Dizemos que o ano vai nascer, que está indo embora, morrendo, lembramos dele como um ente querido ou como algo perverso. E desde que o homem notou que aquelas bolinhas brilhantes coladas naquela coisa preta lá em cima, também conhecidas como estrelas, não estavam sempre no mesmo local, procurou, astutamente, verificar a quantidade de luas que levavam para retornar ao mesmo ponto que observaram pela primeira vez: nasciam os anos.
   E, tal como uma criança que nasce e recebe diversos presentes de seus parentes babões, um ano novo recebe, não presentes, mas promessas. Intermináveis em suas vontades e efêmeras em seus cumprimentos, as promessas de ano novo são uma comédia à parte na vidade um bom observador e fazem meu ano já começar com vontade de rir.


Minha promessa favorita

  Dentre a enxurrada de promessas existentes, a mais comum, mas nem por isso menos cômica, é a " vou começar a malhar ano que vem!". Juro, gostaria de abrir uma conta corrente com o nome de academia, onde essas pessoas depositariam seu dinheiro para que eu possa gastá-lo em coisas mais úteis. A imensa maioria das pessoas que conheço se engana, todos os anos, com essa mesma promessa. Pagam três meses, vão três dias e focam enganando-se que estão cansadas demais para ir naquele dia, mas " amanhã eu vou!"... e nunca mais vai.
  Outra promessa que acho muito bacana, é a de economizar dinheiro para novas realizações. Como economizar se já se gasta em academias? Se você não soube se controlar na hora de comprar durante toda sua vida, quais são as chances de fazer isso em um ano? Além disso, a maioria dos viventes esquecem do porvir e gastam todo o 13º em bebedeiras e presentes natalinos... aí vem o IPTU, IPVA, rematrículas, etc. e as dívidas só se acumulam.


Com a grana torrada nas festas, as dívidas que você tem esse ano, serão as mesmas do ano que se aproxima
 
  Tem também as promessas para perder peso. Mas, claro, só valem após o feriado de ano novo, pois nele você irá se empanturrar de tudo que tiver na mesa, beber feito um terneiro e lograr os cachorros nos churrascos que são realizados.

Se todos que prometem emagrecer conseguissem, a agricultura poderia diminuir pela metade sua produção e alimentar todo o planeta
   Além das mesmas promessas, mesmas pulações de ondas e mesmas lentinhas, a vida toda continua a mesma. Até a programação da tevê, tão bem abordada no post anterior, é mesma: sempre se faz uma programação "especial" de verão ( é tudo igual, só que apresentado numa praia) e, depois, volta-se ao normal. Felizmente, para não perder minha capacidade de me surpreender com a vida e as coisas, sou um dos pseudointelectuais que trocam a tevê por livros.
   Você seguirá trabalhando, ainda terá de comer, tentará fazer sexo com alguém, tocará pedras em cachorros, irá ter que escutar música ruim... a vida é praticamente igual, como propunha a Igreja em tempos medievos: o tempo cíclico. Avançam as tecnologias e mudam-se as velas nos bolos, mas a sensação de repetição é constante, ao menos que se busque novas formas de se surpreender com a vida... e isso há de ser um exercício diário.
   E a vida seguirá, ainda que não existissem os anos, igual. Vida nova? É a mesma vida, mas sempre é bom renovar as esperanças mas, penso, não é necessário ter uma data para isso. Ou melhor, é bom ter uma data para renovar as esperanças sim: todo o amanhecer!

Lá vem 2011!
  É nesse climinha clichê, lembrando que todo clichê já foi novidade ( os de ano novo com os egípcios, talvez), com frasezinhas bonitinhas que encerro esse post!

 Um abraço sufocante e feliz ano novo (?)  a todos!

RETROSPECMERDA


Não tem solução e é todo o ano a mesma coisa: programas de retrospectiva. Como se tivéssemos memória de peixe, a maioria dos canais de TV tenta empurrar goela abaixo um programa chato que não contribui em nada. Também pudera os atores, apresentadores, jornalistas têm que tirar férias no final de ano e a gente agüenta rever tudo o que foi visto e comentado massivamente nos próprios canais. Fazem programas especiais e, não bastando, cada programa faz sua própria retrospectiva, o que faz todos falarem absolutamente a mesma coisa.

Sempre fui fã de televisão, mas confesso que se a própria fizesse uma retrospectiva dela mesma, o programa dos últimos 20 anos seria exatamente igual. O especial do Roberto Carlos, o show da virada, especiais de natal - sempre falam de garotos pobres e papais noéis imaginários - mais especiais de final de ano e séries televisivas de absurda chatice.


Muitos podem se perguntar, por que olhar TV então? Ou sempre tem o falso intelectual que diz não olhar e fica lendo livros. O objetivo não é criticar a mídia televisiva ou os livros, mas entender que a televisão e a internet podem ser meios de comunicação para a obtenção de conhecimento tão eficazes quanto os livros. Porém vemos um descaso com a importância que a TV representa na maioria da população e facilidade que essa tem de poder comunicar. No momento que o jornalismo noticia um aumento de 63% no salário dos parlamentares somos bombardeados de histórias de natal, shows de final de ano e incentivo desumano ao consumo.

O que precisamos não é tirar a “magia” da TV, mas transformá-la em fonte mágica de transformação e de mobilização social. Não queremos uma retrospectiva, mas uma prospectiva para podermos avaliar e planejar o que nos espera mais a frente.

Diversos canais de televisão se vangloriam pelo jornalismo ou a capacidade de noticiar, porém o que adianta divulgar e não discutir? Em cada rede de televisão temos em média 4 horas diárias para o jornalismo, mas quantas horas diárias para a discussão e debate sobre as notícias?

É inegável que ao longo do ano fomos subjugados e no final dele somos anestesiados pelo embriagante consumismo natalino. É inegável que a comunicação tenha 63% de bons motivos para que tudo continue assim.

No meio dessa sacanagem toda: FELIZ ANO NOVO ou FELIZ ÂNUS NOVO.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Papai Noel: revelações nada natalinas

    Os caríssimos leitores deste humilde blog já devem ter se deparado com uma situação um tanto corriqueira no mês de dezembro: crianças com medo de Papai Noel. Incentivadas por adultos inconsequentes ( seus pais ) vão, aos poucos, perdendo esse medo "bobo". Nesse post, meus caros, explicarei que tal atitude parental, trata-se, em realidade, de um erro gravíssimo.

Crianças com medo do Santa Claus: ainda deveríamos ter medo desse emissário do Tinhoso


     As crianças possuem uma sensibilidade incrível. Não à toa que percebem coisas que os adultos não conseguem perceber e aprendem a falar, através da observação atenta, até no Nordeste. Essas sábias criaturinhas conseguem perceber que o Santa Claus, além de ser um emissário do Pai-da-mentira, foi enviado para dissuadir a data em que os cristãos comemoram a data de nascimento do dito Filho do Homem, e também espalham o terror durante todo o ano, através das tais canções natalinas.
    Isso, apesar de parecer irônico, está na raiz do mito natalino em que Krampus, o lado mal do Pai Natal, aparecia para punir as crianças que tiveram mal comportamento durante o decorrer do ano.


Krampus, o lado mal do Papai Noel, punido as crianças más: vou pedir ao Papai Noel para ele aparecer para certos políticos!
   " Eu pensei que todo mundo era filho de Papai Noel", essa frase, de uma conhecida música natalina, faria com que, automaticamente, todos os pais cristãos do mundo fossem cornos... e o Papai Noel, que de Santa não teria nada, seria um comedor mais tarado que o Mick Jagger, ou, então, o próprio Mick seria o Papai Noel.

Se todo mundo fosse filho de Papai Noel, não seria absurdo pensar que ele é o Mick Jagger



     Se, de fato, o Papai Noel fosse esse comedor inveterado, o trecho " anoiteceu e o sino gemeu" faria mais sentido, pois o "bom velhinho" estaria fornicando com um sino, em busca de satisfação para seus fetiches através de novas aventuras sexuais com objetos inanimados.
   O fato de Papai Noel ser tarado também explicaria o fato de ter renas com nomes tão homossexuais: Rudulph, viado enrustido; Dançarina, uma bichinha alegre; Cometa,  uma biba que se acha arrasadora; Corredora, a mona esportista; e, o melhor de todos, Empinadora... por favor, sem comentários. Fica óbvio que Papai Noel, que batizou os bichinhos, é um zoófilo de primeira linha.

Pai Natal correndo atrás de uma de suas renas: seria ele, também, um zoófilo?

   " Papai Noel, o que você fez?" esse trecho de música pode nos revelar, também, que Papai Noel pode realizar feitos macabros. Poderia esse trecho ter sido composto ao ver ele, Santa, descer pela chaminé com a mãos sujas de sangue após assassinar uma de suas renas que se negou a levar chicotadas enquanto voa, o que caracterizaria trabalho escravo sob tortura? Na opinião desse humilde escritor, é quase certo que sim. Chego a ver a criancinha com as mãos à cabeça fazendo tal pergunta ao velhote.
   Alguém, por acaso, já pensou no motivo de o Papai Noel manter escravizado durante o ano todo, em sua fábrica de brinquedos, anões? Por que essa fixação em distribuir presente somente para crianças? Ora, não está evidente, meus caros, a grande tendência à pedofilia desse nefasto ser?
  É, meus queridos, certas estão as crianças que sentem medo de permanecer no colo desse ser macabro que, ao longo do tempo, entrou em simbiose com seu lado mal e se tornou o Mick Jagger ( isso explicaria a música "Sympathy for the devil", dos Stones). Não ficaria surpreso, eu, ao ver adultos, após lerem esse post, a nutrirem medo pelo "bom velhinho".
   Outra coisa marcante em Papai Noel é a grande possibilidade de, além de ser tudo o que foi citado acima, ele ser um incentivador da mendicância e da obesidade. Sua barba grande e mal feita, seu saco cheio de tralhas, a mesma roupa sempre e sua veneranda barriga corroboram para provar o que estou dizendo.


Incentivador de comportamentos desviados, Santa é um mal exemplo para as crianças
  Certo está Matt Groening ao compor o Papai Noel, em Futurama, como um robô do mal, como demonstrado no post anterior.

O Robô Santa, de Futurama: a mescla de metal do Noel e do Krampus



  É terrível saber das coisas acima, mas, como disse o próprio Matt Groening, através de Jebediah Springfield, "Um grande espírito engrandalhece o menor dos homens". É isso que Papai Noel, através das campanhas publicitárias da Coca-Cola, faz: distribui, ao custo de algumas lâmpadas, árvores e enfeites, o espírito natalino, que prega a bondade entre os homens.
  Será?

Conquistador inveterado, zoófilo, mendigo, mal e possível pedófilo: um retrato do Papai Noel atual
  E a religião no Natal? Comida pelo capitalismo!!!!

  Um abraço sufocante e natalino a todos!!!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Nas próximas eleições, votem em mim!

  É natal amigos! Momento em que os cristãos trocam presentes e, como disse Bart Simpson, comemoram o nascimento de Papai Noel.  Imbuidos desse espírito natalino, nossos queridos deputados, em escala nacional e estadual, presentearam-se com um mimoso aumento inescrupuloso.
  Como atuo no Rio Grande do Sul, meu post vai aos deputados estaduais que horaram, como nunca, o espírito natalino.

Bart Simpson: assim como ele, nossos deputados também estão comemorando o nascimento de Papai Noel


    Me sinto como uma prostituta. Sim, uma prostituta suja e barata, porque me fodo trabalhando e o que ganho, além de esporro, é um salário de morte, que, aliás, vai aumentar uns velos 30 ou 50 pilas. E, por que diabos, quem tem que ficar com a maior parte da minha grana é quem me fode?
   Geralmente me utilizo de um vocabulário mais polido para minhas ironias nos meus posts, mas não há como descrever o que nossos amadíssimos deputados estão fazendo conosco, a não ser como uma legítima putaria.
Não há como definir o aumento dos deputados, a não ser como sendo a maior putaria do mundo

  Um aumento de 73% no próprio salário que era de R$11.000,00 parece, para alguém, justo? Ainda mais se consideraramos o que nossos queridos deputados estaduais fizerem em prol da população, creio que a resposta, maciçamente, seja não.
  Escolas jogadas no lixo, segurança pública inexistente, indústria de multas para pagar propinas, falta de empenho... poderia ficar citando ad infinitum as "excelentes" ações dessas ricas criaturas durante a última legislatura, mas meus dedos são preciosos demais para enumerar essas tolices.

Nossa Assembléia: uma casa de desrepeito com a população

    Aproveitando esse post, gostaria de pedir o meu milagre de Natal. Gostaria que nossos excelentíssimos deputados voltassem atrás da sua lamentável votação e restituissem seus antigos salários, que já era mais do que bom e suficiente para com as, pouquíssimas, atividades que desempenham.
    É um pedido, mas é um milagre.


Feliz Natal, deputados!
   Em dias lamentáveis como esse, eu gostaria que o Papai Noel fosse o robô assassino do futurama e que a Assembléia tivesse uma chaminé.


Você foram maus garotos!!!!


   Um abraço sufocante, natalino e sem escrúpulos à todos!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O passado escorado: a morte de São Leopoldo

   Esse post não começa agora. Ele começa numa manhã de 2004. Naquele dia havia um escritor autografando seu livro na, então, tradicional Livraria Rotermund. Ivanio Habkost autografava a sua obra " Um Rio entre nós", um romance sobre a História de São Leopoldo. Não havia ninguém lá além do escritor. Naquele dia, percebi, o que estava relutanto para aceitar: minha cidade estava morta!
   São Leopoldo, a cidade onde vivo e que empresta seu apelido a este blog estava morta, ou, mais positivamente, morrendo. Por que digo isso da cidade onde vivo com mais 210 mil pessoas? Explico.

São Leopoldo: berço da imigração alemã e jazigo perpétuo da Memória e da Cultura
  Conhecida como " o berço da imigração alemã" no Brasil, São Leopoldo não tem mais muitas coisas que nos remetam aos imigrantes, com exceção dos belos fenótipos da população descendente. De uma colônia que abastecia Porto Alegre no século XIX, o pequeno povoado se tornou numa pujante cidade, em termos econômicos.
   Agora, onde está a marca do passado leopoldense? Num museu que em nada remete aos imigrantes alemães, exceto pelo seu acervo interno? Numa casa enxeimel que era uma senzala e foi reconstruída em meados do século XX para lembrar a memória germânica? Ou nas pedras da Rua Independência? Em lugar nenhum senhores, a cidade, assim como os peixes do seu rio, não existe mais.


Assim como os peixes morreram por falta de oxigenação, a cidade morre por falta de memória

    A Rua Independência, vulgo Rua Grande, antiga passagem de tropeiros, ainda possui prédios lindíssimos, de rico valor arquitetônico. Mas, onde estão eles? Sim, meus caros, escondidos atrás de placas e mais placas de publicidade de lojas exóticas. Digo lojas exóticas por conta da morte proporcionada às lojas tradicionais da cidade. Isso não é fenômeno exclusivo de São Leopoldo, é um fenômeno da Globalização, o que, de forma alguma, o faz ser menos lamentável.


Tente encontrar a beleza dos prédios atrás das placas poluídoras visuais: só as pedras do chão ainda lembram o passado leopoldense
   E a pequena vila que possuía uma rica área rural que alimentava a região metropolitana ficou apenas nas fotos. A especulação do mercado imobiliário destrói, não só o que restou das áreas rurais, mas também o que restou de natureza intocada na cidade, para construir casas de qualidade duvidosa para a população crescente. Veja os casos do Morro do Paula, Mato do Daniel, ou a área de mata no Bairro Padre Reus. São apenas alguns exemplos que, além de indignantes, são imorais e contra todos os apelos de desenvolvimento sustetável amplamente propagados e discutidos, inclusive, na própria cidade, dentro da Unisinos.
   A cada dia que passa vejo uma maior degradação do passado. O Bairro Rio dos Sinos, que anos atrás poderia ser chamado de tradicional, hoje posso chamá-lo de ruína. Na rua Dr. Hillebrand havia um casarão antigo de grande beleza e que desabou, sem que se ouvisse uma única voz a tentar reverter o estado precário em que se encontrava a residência. Além disso, as casas antigas da Rua da Praia são uma visão triste de um passado que se foi. Mais recentemente, a queima do prédio dos Vinagres Weinmann entra para a lista de locais de memória destruídos.

Fábrica Weinmann: mais um local de memória destruído

   Muito próximo da casa onde cresci e fui adestrado há uma lindíssima mansão do século XIX em estilo neo-clássico, antiga sede da Fazenda Campina, que, muito provavelmente, receberá o mesmo destino de todos os outros lugares de memória em São Leopoldo: a ruína. Esse local já está habitado por drogaditos de toda ordem e, creio, o poder público nem sabe disso.
   Outro caso de descaso está no casarão na Rua Saldanha da Gama. Escorado por toras de eucalipto, muito em breve irá receber o que merece: o chão. Ah, nem quero lembrar do incêndio da antiga sede da Unisinos...
   Por tudo que disse acima, iniciativas como a da empresa Zafari/Bourbon, de instalar um shopping que lembra uma grande casa enxeimel, acabam por ser alienígenas. A maioria dos leopoldeses nem sabe o motivo de também serem conhecidos como capilés. A festa anual que a cidade promove é outro absurdo, esse de proporções épicas, pois promove um resgate de memória tão efêmero quanto a duração das festividades.


A falta de memória é tamanha na cidade que o Shopping Bourbon acaba por ser uma construção alienígena
   Agora entre São Lepoldo e seu passado existe não mais um rio, mas um oceano, cheio de peixes mortos.
   Vivo num grande jazigo, onde peixes, Memórias e Histórias morrem; um povo sem Memória  não é um povo; um povo sem Memória tem História, mas a desconhece; um povo sem História não existe; uma cidade sem povo também não.
   Jaz São Leopoldo, mas não em paz.


Aqui ainda é possível ver a beleza das fachadas dos prédios da Rua Grande. Também é o único lugar onde isso é possível!


  Um abraço sufocante e leopoldense à todos!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Ohohoh! Confraternizações: um passo para a demissão!

  Ahhh, o final de um ano. Época de renovar as esperanças, gastar um dinheirão em academias, apelar para a humanidade das pessoas e, claro, das boas e velhas festas de final de ano.
   Com origem nas festas pagãs que comemoravam a última colheira do ano e em homenagem ao Deus Janus, essas festas foram atualizadas para o Natal e o Ano novo, ou Revéillon ( nous revéillons, nos revelamos, como dizem os franceses). E nos revelamos, sim, mas não nas festas familiares, mas, aí sim, nas festas de confraternização das empresas. E essa revelção é, sempre, no pior dos sentidos.

Após algumas cervejas a imagem acima é exemplo do que uma confraternização de fim de ano pode nos revelar
       As confraternizações de final de ano são, em sua grande maioria, um descargo de consiência do patrão para com as sacanagens que ele fez com os seus funcionários ao longo do ano. Salários atrasados, férias canceladas, direitos não pagos e horas extras exaustivas são esquecidas em troca de um espeto com picanha suculenta, cerveja de graça e sorteio de um chaveiro e uma garrafa térmica.

Um churrasco com bebida liberada e brindes chinelos  fazem de um absolutista um santo
    As festas de final de ano das empresas, além de servirem para o que disse acima, servem para outros motivos também: ver bêbadas as pessoas que você vê em bom estado todos os dias e aumentar a coleção de galhos dos cornos e cornas que são os companheiros dos funcionários. Que festa de empresa é uma festa sem uma boa sequência de fofocas na semana seguinte?

Toda festa de empresa que se preste acaba com alguém corno
  Claro, não poderia deixar passar os micos das festas de fim de ano. Todos nós temos um striper interior que é liberado quando? Sim, justamente nas festas da empresa, isso após algumas bebidas. E todo mundo ainda grita " vai fulano, vai fulano" e na semana seguinte, após a ressaca, o fulano(a) vai: pra rua!
   E não poderia faltar a tradicional troca de vale-presentes, antigamente conhecida como amigo secreto. Nessa instigante prática os presentes trocam vale-presentes de R$10,00 entre si e todos acabam falando, na semana seguinte, que ficaram insatisfeitos com o presente dado.


O bom e velho vale-presente: o que seria da troca de presente entre desconhecidos (colegas de trabalho) sem ele?
  É! Não há como negar que essas festas alegram nossa exitência. Para alegrar ainda mais, sigam um conselho do velho ser anti-álcool que sou: não bebam, vai ser muito mais divertido lembrar de todas as merdas que os outros fizeram depois. Além disso, todos terão uma dívida de silêncio com você. Aí, meus caros, é só utilizar sua imaginação e usar seus colegas como escravos!


   Um abraço sufocante e revelador à todos!


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Comendos os "D's": os gerundismos da peste

   Palavras. Essas entidades que são pedaços de nossas e almas e, consequentemente, resquícios das almas de outros que as proferiram. São nossas heranças romanas e gregas. É algo que me faz sentir orgulho, por falar uma das línguas mais complicadas que a humanidade já teceu: o Português.
   Ahhh, essa terrinha espremida entre a Europa e o Atlântico fez com que o Latim ali chegado com os conquistadores do Olissipo se vulgarizasse na língua que compartilhamos com Camões e os pedreiros nordestinos que não nos deixam entender sua mirabolante língua.
  Sei que uma língua é um rio que flui sem que se possa impor uma barragem, mas tem gente utilizando o rio pra matar. É o mal que água faz quando se afoga. É sobre isso, senhores, que venho reclamar.

Tô pagano: onze entre dez peões ainda sofrem de insuficiência respiratório ao rir disso
   Com os gerundismos a gente se acostuma. Afinal, nem são errados. Podem ser feios, mas não errados. O próprio Camões já os utilizava. O problema todo é comer o "D" dos gerundismos. Eternizado na televisão com o bordão " tô pagano!", que ainda mata pessoas de rir ( não sei o porquê!!!), ele mata sim, mas a nossa língua.

Denzel Washington, vulgo "D": que fique claro que comer o "D" em Português não implica em práticas homossexuais com o ator

   Interessado em buscar as razões disso, pesquisei. Muito além da tradicional e latente preguiça nordestina, o fato de comer o "D" não reflete a fome daquele povo, mas a sede. Explico.
  Ao falar " estou pagando" como seria o correto, se projeta, ao pronunciar o "D", saliva para fora da boca, os famosos perdigotos. Ao falar " pagano" se economiza saliva, pois o "N" faz uma barreira entre o fundo da boca com a sua saída, economizando, assim, saliva. Sábios nordestinos, economizando água até na hora de falar.

Acostumados com a seca, os nordestinos aprenderam a economizar água até ao falar
   Embora tenha suas raízes no nordeste, o "gerúndio da peste" se espalhou pelo Brasil. É comum se ouvir naquelas ligações de telemarketing "estou transferino sua ligação...". Além de encherem o saco com ligações intermináveis, ainda nos brindam com o pior que se produziu em Língua Portuguesa. Mas isso já é pra outro post, este aqui já tá acabano!!!

     Estou abraçano sufocantemente à todos!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A extinção do self-made man


Na vida passamos dificuldades. A gente compra parcelado, fica desempregado, deixa de pagar algumas parcelas, arranja emprego e renegocia; coloca os filhos em escola pública, trabalha feito louco e no final do ano fica um feriadão na praia feliz da vida, mas achando que pode ser melhor. Vamos atrás dos nossos sonhos cansados da correria do dia-a-dia até ver um programa de TV. Lá está um cara lançando um livro contando a história da sua vida: ele nasceu órfão, foi mal tratado quando criança; foi engraxate; vendedor de amendoins... blá blá blá ... “venceu na vida”. No livro ele conta como não precisou de ninguém para subir na vida e com muito trabalho e esforço foi o construindo seu império, deixando intrinsecamente dito: – EU CONSEGUI SOZINHO. VOCÊ NÃO ESTÁ FAZENDO O SUFICIENTE PARA CONSEGUIR. PREGUIÇOSO.
Obrigado Sr. self-made man por me fazer sentir melhor e olhar para os meus sentindo o pesar de não fazer o suficiente para “vencer”. É difícil admitir mas – CARA, EU PRECISO DOS OUTROS! Eu preciso dos incentivos do governo para estudar, construir minha casa, dos sistemas de saúde; preciso da sensatez de algumas pessoas para reconhecimento do meu trabalho, a compreensão dos meus parentes de que estou tentando, a compreensão dos meus credores e que saibam que eu estou tentando. Como dizer àquelas pessoas que vivem abaixo do necessário - criando seus filhos como pode - que elas não fazem o suficiente? Seria justo cobrar isso das pessoas não atendidas pelo estado?
O Sr Self-made man que faz parte do 1% dos que “conseguiram” não sabe que a sua história orgulhosa de trabalho exclui outros 99% que estão lutando. Seu discurso eloqüente auto bajulador transfere a responsabilidade, que deveria ser em grande parte da sociedade, para as pessoas que se culpam diariamente por fazerem somente o suficiente. A ascensão social deveria ser o estímulo para que possamos ajudar as pessoas a ascenderem socialmete também. Até um dia, o banco desse self-made man quebra e este recorre ao governo pedindo empréstimos para manter seu patrimônio. Esse mundo gira...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nova tribo na floresta!

   É com grande atenção que tenho notado, nos últimos meses, a emergência de novas tribos urbanas. E longe dos clássicos metaleiros, hippies, tatuados, regueiros e afins, eles podem ser definidos numa palavra: MEDO.
   Uma dessas novas tribos, se é que dá para chamar assim, é simplesmente bizarra. São os emos de Jesus, ou os crentes-emos. Esses seres, híbridos entre o bom e velho emo psicopata que conhecemos e o crente inconveniente que gostaríamos de não conhecer espalham o terror por onde passam.

Os emos de Jesus espalham a Palavra e a bizarrice por onde passam
   Para se ter ideia de quão nova é essa tribo, é só colocar o nome dela no Google e porcurar por imagens: não há! Até pensei em tirar fotos, mas eles iriam poderiam pensar que estou tentando roubar a alma deles. E o pior de tudo: agora fiquei sabendo que já existe o "emocore-gospel". Quando pensava que as coisas não poderiam ficar piores, sim, elas pioram.    
   Imagine que esses tribeiros andam de crucifixo de cores berrantes, bíblia fluorescente e sapatos social rosa. Agora, pensem bem, que tipo de imagem isso evoca? A do capeta tirando onda!
   No escopo das tribalização da sociedade, estou criando, também, minha própria tribo: a tribo normal. As pessoas da minha tribo usam roupas normais, cortes de cabelos discretos, trabalham e estudam para se mostrarem para a sociedade. Nos seu tempo livre, os normais dedicam-se a pequenos serviços domésticos, jogam futebol, ouvem boa música e até fazem sexo! E, o mais impressionante, utilizam-se de erva para tomar uma bebida que passa de mão em mão conhecida como chimarrão!!!

Atividades plenamente praticadas pelos Normais

      É gente, me identifico plenamente com essa tribo: stresses, pagamentos de contas, rotina e brigas de trânsito. A terrível sina de se pertencer a uma tribo que não se pode sair!


  Um abraço sufocante e normal à todos!