Lembro-me de uma certa ocasião em que levei minha irmã, adoentada, ao médico. Chegando ao consultório, qual não foi a minha surpresa ao ouvir que o médico constatara, talvez por inferência divina, que minha irmã estava com uma virose. Irônico, como sempre tentei ser, agradeci ao médico e disse que agora poderíamos ficar mais tranquilos uma vez que ela estava com algo entre gripe e AIDS. Quase fui surrado pelo médico.
O pequeno causo real acima demonstra com clareza uma atitude daqueles que detêm o mito do saber absoluto.
Mas, o que, what hell, é o mito do saber absoluto? É o mito, segundo o qual, a pessoa, ou o profissional ( o que dá na mesma) é infalível, pois estudou para saber tudo aquilo. Como no caso de minha irmã: como o médico poderia saber se é uma virose, sem ao menos realizar um único exame? E, ainda que realmente fosse uma virose, qual das milhares delas?
Esse mito se desfez para mim quando estava na segunda série. Quando meus colegas perguntavam para a professora os significados de diversas palavras da nossa amada língua portuguesa. A professora, num beco sem saída, obrigou-se a dizer que não possuía o conhecimento do significado de todas as palavras, assim como ninguém jamais saberia, ou soube, sobre tudo.
Este mito, minhas crianças, é o que faz com que muitas pessoas sejam tratadas de forma errada por médicos que mal as olharam. Ainda assim essas pessoas aceitam esse tipo de tratamento, porque, afinal de contas, quem lhes receitou foi um médico, não pode estar errado. Por certo que muito disso acontece por falta de um sistema de saúde falho, muito falho, que sujeita esses profissionais a darem maus atendimentos.
Outro exemplo clássico do mito do saber absoluto se encontra na seguinte afirmação: " se apareceu na tevê, é porque é verdade!". Como os leitores desse blog devem saber, nada está mais longe da verdade. Sabe-se de inúmeros casos, isso somente para citar o caso brasileiro, em que as emissoras de tevê mentiram, omitiram ou, pior ainda, inventaram notícias para forjar uma verdade.
O problema de tal mito é menos dos profissionais que os carregam e mais da educação com a qual o povo é adestrado. A internet tem contribuído e muito para dissolver alguns mitos ( e criar outros tantos), mas a capacidade de refletir e argumentar é que é a principal arma contras os maus profissionais que utilizam seu diploma como se fosse um deus sabedor de todas as questões, ou o Google. E essa capacidade se adquire através de uma educação de qualidade, onde, também o professor, não seja o dono da verdade, mas um catalisador da curiosidade que leva o alunado ao conhecimento.
Como sempre, a raiz de todo o problema é a falta de esforço educacional de um país onde se crê que investir em educação seja construir um prédio e colocar uma placa com o escrito "escola" nele.
Escola abandonada: construtora de mitos e perpetuadora da ignorância |
Um abraço sufocante e detentor de todo o saber à todos!