terça-feira, 23 de novembro de 2010

CORPORATIVERS - parte I


A sala do chefe é símbolo do desperdício espacial porque é uma sala grande demais, que possui uma mesa descomunal, cacarecos diversos e – é claro - uma estante (“biblioteca”) cheia de livros empresariais e auto-ajuda. Os livros jamais foram abertos – concordo com esta atitude, mas pra quê comprá-los? O chefe está pronto para encaçapar a bola 5 – sim, ele tem uma mesa de snooker e está jogando com Moreira, o diretor geral - quando é anunciado o jovem promovido.

Jovem promovido: - senhor desculpe incomodar, mas é que deu blackout na produção.

Chefe: - fala logo, atrapalhou minha jogada.

JP: - o Perez teve um burnout e caiu duro no meio de um setup de máquina e foi pro hospital.

Chefe: - quem é esse? O gay?

JP: - não. É um senhor careca.

Chefe: - Ahhh sim, o skinhead cubano. Quando voltar desconte do salário dele o tempo parado, os custos médicos e demita-o.

JP: - Mas senhor, aquele cara é um workaholic e não fez o checkup anual porque tava trabalhando. E somente ele consegue mexer naquelas máquinas. Ele trabalhava fulltime na produção.

Chefe: - Coloca aquele guri estranho, o trainee. Fizemos um curso in company no último mês. Foi o suficiente para eles aprenderem a brincar naquelas máquinas.

JP: - somente o Perez sabia mexer nas geringonças antigas, além do mais o turnover está alto e isso custa caro e, nesse trade off, é melhor continuar com ele. Nossa imagem agressiva está nos fazendo perder market share no nosso ramo.

Chefe: - Ok! Entendi. Já que não posso demitir um corpo mole da produção, o Moreira mostra o corpo duro pra secretária. HAHAHAHAHAHAHAHAHA – hein Moreira?

Moreira: - Excelente senhor.


O jovem sai da sala.

Chefe: - Moreira, amanhã demita o Perez e esse gurizão que veio aqui. Promova o trainee pro lugar dos dois.

Chefe: - E deixa eu dar outra tacada que a última não valeu.

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