sábado, 15 de janeiro de 2011

Alice acorrentada na frente do espelho: o Grande Irmão Brasileiro

   Mais um ano que começa. Contas, cidras baratas, bebedeiras sem sentido, programação de verão e, claro,nesse contexto não poderia faltar o programa da família brasileira: Big Brother Brasil.

Big Brother Brasil: irmão de quem?
     Quando o escritor George Orwell lançou seu livro "1984" não imaginava, nem em seu pior pesadelo ( talvez um sonho em que porcos falavam de Revolução), no que o personagem-metáfora do Grande Irmão iria se transformar. O pobre escritor deve ter transformado seu caixão em liquidificador, de tantas vezes que deve ter se revirado no túmulo.
    Um dos maiores clássicos universais da literatura inspirou um dos maiores fiascos televisivos da história. Fiasco somente em termos de conteúdo (sic!), pois sabe-se que, ao menos no Brasil, o programa é uma experiência extremamente rentável.

O clássico de Orwell inspirou este zoológico que nos é mostrado na tevê
      E, por que diabos, uma produção de péssima qualidade, visivelmente forjada e ridícula, é um sucesso? Explico. Além de, assim como as músicas-chiclete, ocuparem o vácuo interno existente entre as duas orelhas da maioria dos brasileiros ( conhecidos como cérebro, em humanos), o programa oferece algo que apetece ao grande público: a desgraça, a bizarrice e a vergonha alheia. O programa acaba por fomentar o que temos de pior, que é a capacidade de rir da desgraça daqueles homenzinhos presos na caixa.
     Mas não ria demais: se você desligar a tevê, ela vira um espelho. Olha bem, quem é que tá preso aonde? Quase todos temos esse espelho para ver o mundo doente, como dizia o Russo... mas trocamos nossa riqueza, que é nosso tempo, por essa quiquilharia sim valor.

Não somos índios cantados por Russo: pagamos pelos espelhos mágicos que nos fazem esquecer do mundo doente. É o nosso teatro dos vampiros encantador!
    Além dos aspectos supracitados, a própria produção do programa dá uma forcinha para que essa encenação fajuta ultrapasse os limites do estúdio onde é gravada. Traçar scripts para os "participantes" e manipular o número de ligações e/ou votos numa apuração de eliminação são algumas dessas táticas. E por que motivos se faz isso? Para tentar envergonhar o cara que, como eu, não assiste essa merda, fazendo com que, por exemplo, todos os colegas de trabalho falem sobre quem vai ser eliminado no "paredão" enquanto, concomitantemente, chegam à conclusão de que sou um chato porque não assisto essa porcaria.


Fabrício: Uma das poucas pessoas que conheço que não mentem que gostam do Big Brother para puxar o saco de alguém ou fazer de conta que tem assunto
   Um das coisas que também me indigna nesse programa é ver o Bial, alguém que por quem tinha certa consideração até o ano 2000, apresentando o circo e chamando aquelas ricas criaturas de nossos heróis. Puxa vida, se ele ainda usasse de ironia para dizer isso, mas, convenhamos, ele tá fazendo o serviço dele. Ter que mentir um monte na hora que os caras são eliminados, dizendo o quanto eles são gente-boa e melhores do que quem tá, infelizmente, assistindo, não é fácil. Ele, o Bial, é um excelente ator .
   Agora, concentremo-nos na atitude heróica dos brothers:




  É isso ai tudo o que está acima que eles tem de heróicos. Absolutamente nada. Fazem o mesmo que você faz, e, você, também é monitorado por câmeras o tempo todo. Então você também é herói? Pode ser que você seja o Super Zé, mas só vai ganhar muita grana se acertar na Mega.
  Herói é quem consegue dedicar algumas horas preciosas do seu dia para ver essa ladainha de faz-de-conta ao invés de dar atenção ao filho, que encontra a devida atenção no seu novo amigo que conseguiu umas paradas naturais para revenda! Até o seu cachorro mereceria mais atenção do que a televisão!
  É, esses homens na caixa escolheram entre o bem e o mal, ser ou não ser... sem nunca ter lido Shakespeare, não terem idéia do que seja Maniqueu, pensarem que dualismo é uma classificação sexual e, o pior, nem escutarem Alice in Chains.



De uma maneira absurda e sem nenhuma concatenação, o BBB tenta reunir coisas tão díspares como as colocadas acima


   Vida real, a música da RPM que é tema de abertura do programa, também diz muito sobre o que abre: se eu pudesse escolher, entre a imitação tosca da vida tosca de gente tosca e a minha realidade tosca, escolheria trabalhar até depois do horário para tentar conter a vontade de destruir meu aparelho televisivo.
  Quem é irmão de quem? O ser muito além do cidadão Keane?

  Um abraço sufocante e fraterno a todos!
 

sábado, 8 de janeiro de 2011

Bola nas costas: o futebol como política do pão e circo

  O recente leilão fomentado pelos meios de comunicação em massa com relação à vinda do Ronaldinho Gaúcho para o futebol brasileiro tem me feito pensar nas razões para que tal ato ganhe tanto destaque na imprensa. Como numa teoria da conspiração em que os Iluminati domam a História do mundo, os meios de comunicação corroboram para que, cada vez mais, o futebol seja o ópio do povo brasileiro.

Milhões são arrastados para dentro dos estádios e esquecem-se do restante da vida: tem gente que troca mulher por futebol

   O antigo jogo britânico que representa a execução de uma batalha sem, na maioria das vezes, mortos, ganhou sua versão moderna no século XIX. De lá para cá só fez crescer e conheceu, sob os pés dos brasileiros, seus maiores mestres.
   Não há mal algum em dedicar tempo à uma paixão que jamais será correspondida, que é a relação torcedor-time, o problema todo está quando todo o restante da vivência perde espaço para a idolatria de onze homens correndo atrás de uma bola.
  Essa idolatria encontra um apoio irrestrito na política, ajudada pela mídia de massa. Enquanto há três minutos para apresentarem a mais nova falcatrua da politicagem, os jornais dedicam um quarto de hora para falarem sobre quem vai arrebatar o passe de Ronaldinho Gaúcho e/ou sobre os preparativos da Copa de 2014.

Embora não tenha culpa nem consciência disso, Ronaldinho acabou por abrir discussões sobre a demasiada importância do futebol no Brasil

   É a velha política do pão e circo, que vem dando certo desde os tempos romanos. Por um espetáculo ( que ulitmamente não tem sido tão espetáculo assim), o povo deixa que seus governantes façam qualquer coisa e ficam felizes com um chute de rosca dado com a canela que acaba entrando nas redes. E o pão não é mais dado.
  Embora não seja torcedor de time algum ( o que me faz praticamente um exemplar único da espécie) sou um admirador do bom futebol e não fujo de uma boa pelada. O que me entristece é ver que, enquanto as grandes telas mostram um futebol decadente e milionário ( em suas dívidas), deixamos a defesa aberta para que sejamos atacados por pessoas velozes e sem escrúpulos que nos dominam por conta de nossa total falta de consciência e memória.

A corrupção e os corruptos também são grandes fãs do futebol

   Infelizmente, nossa falta de memória é tamanha que é possivel encontrar torcedores  fanáticos que nem lembram-se do último título do seu clube ( mesmo que ele tenha ocorrido na temporada anterior). Se se esquece do que se ama, como pedir que se lembre do que não se importa?
   Para mim, parece que, ao final de todo jogo, são disparados aqueles aparelhos que apagam a memória, com os do filme " MIB: Homens de preto". Caso ao contrário, como explicar nossa falta de interesse e de memória por assuntos mais relevantes que futebol? Como explicar que piadas repetidas à exaustão ainda sejam motivos de riso? Isso explica, de certa forma, porque o Zorra Total permanece no ar!


Ao final de cada jogo, a memória dos espectadores é apagada... isso explicaria nosso esquecimento crônico de coisas importantes





   Apesar de tudo, continuemos jogando futebol. São mais algumas horas de economia de energia do meu inútil aparelho televisor.




   Um abraço sufocante, futebolístico e dentuço a todos!



sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

sábado, 1 de janeiro de 2011

Posse e pose: falas sobre o "fim do preconceito"

  1º de janeiro de 2011. Ano novo. Posse da primeira mulher presidente do Brasil. Enquanto Dilma subia a rampa do Palácio do Planalto,caiam séculos de uma sociedade machista e preconceituosa. Vários foram os comentários de que se estava dando mais um passo para o fim de preconceitos em nosso país. Será?

Dilma: da luta à presidência
  Não em vão, a chegada de uma mulher na presidência do Brasil, suscitou, e vai suscitar, discussões sobre sexismos e preconceitos. Fala-se em conquistas das mulheres, porém, podendo aqui ser tachado de preconceituoso, sabe-se que a eleição de Dilma teve muito mais a ver com a atuação de um homem, Lula, do que a força dela própria.
  Frases como " finalmente uma mulher na presidência em 2011", "esperamos cinco séculos para ter uma mulher da liderança" foram repetidas nas transmissões da solenidade de posse. Ora, quando foi a reunião que se estabeleceu quem até 2011, deveríamos ter uma mulher na liderança?

Por acaso foi aqui que decidiram o porvir dos séculos?


  Nada contra uma mulher presidente. Votei na Dilma. Mas dizer que isso retrata o fim de um preconceito é demais para a minha cabeça. Ora, por certo que os preconceitos vão continuar e, também é certo, não há nada que se possa fazer para erradicá-los.
   Preconceitos são, de uma forma primeira, bons. Foram eles que definiram fronteiras dos espaços nacionais e que fizeram com que mudanças tecnológicas fossem feitas para evitar o outro, ou não fazer como o outro fazia. É ele que divide a política em partidos e possibilita discussões enriquecedoras. Todo o preconceito contra o preconceito se dá quando esse é expresso na forma de intolerância e violência, física ou verbal.
   Gosto muito de rock e não escuto outras músicas. Não é por isso que vou soltar uma bomba num show de música sertaneja ( emobra já tenha tido essa votade!) só porque não curto o mesmo som. É um tipo de preconceito, mas aprendi a respeitar a decisão dos outros, não só com relação aos gostos musicais, mas em todos os aspectos.

Não é porque não gosto de algo que devo explodí-la, como fazem certos seres
   Dizer-se contra o preconceito é negar a essência humana bem como um erro. Todos temos um conceito pré-estabelecido contra diversas coisas, caso ao contrário, dificilmente nos manteríamos vivos, pois estaríamos propensos a adotar atitudes que colocariam nossas vidas em risco.
 O preconceito é facilmente confundido com discriminação. Embora se tenha preconceito contra algo, é importante sempre realizar o exercício de respeito ao próximo em suas diferenças, ainda que não as goste.

Lula: da brincadeira do pólo exportado de viados ao apoio contra preconceito. Será?


  E o que um post aparentemente sobre a Dilma tem a ver com preconceito? Ora, esse post serve apenas para sinalizar que um fim do preconceito ( contra a mulher ou de qualquer ordem), ainda que entendido como discriminação, não acontecerá porque ela subiu ao Planalto assim como o fim da pobreza no Nordeste não ocorreu quando da posse de Lula porque ele é nordestino.
  É um erro pensar no fim da discriminação colocada na forma de violência e um erro maior não lutar contra ela.
  Por fim, desejo à nossa presidenta um excelente período de governança!

 Um abraço sufocante e empossado a todos!